Com a Independência do Brasil em 1822 e o estabelecimento da Constituição de 1824, a educação passou a ser gratuita para todos os cidadãos. O governo oficializou o primeiro método de ensino público, o Método Lancaster (Método do Ensino Mútuo) no qual aluno monitora outros alunos. Organizou a educação por etapas: Pedagogia, Liceu, Ginásio e Academia. Contudo, os avanços na educação foram tímidos. Algo muito distante da realidade dos brasileiros, inacessível para a maioria da população. A situação era ainda pior nas províncias mais afastadas da corte, caso do Piauí.
A província do Piauí continuava praticamente sem escolas, com pouquíssimos professores. Os padres permaneciam os maiores benfeitores de um ensino mais informal que oficial. A política educacional piauiense engatinhava. O cargo de professor era uma segunda ocupação. Ninguém vivia do magistério, encarado mais como uma missão social que atividade profissional.
Campo Maior não fugia desse contexto. O professor José Alves Barbosa atuou por quase 30 anos na educação campo-maiorense do período Imperial. Para exercer o magistério, desempenhava outras funções públicas: vereador, juiz e agente dos correios da vila. A educação ficava em segundo plano por conta de outros afazeres.
O ensino era sua grande paixão. Ele lutou arduamente para conseguir o direito de exercê-lo de modo integral. A Câmara Municipal foi sensível a sua causa e o dispensou de empregos oficiais para que pudesse dedicar-se exclusivamente ao magistério. O apoio político foi fundamental nessa conquista.
A carga excessiva de trabalho por conta da acumulação de funções atrapalhava seu desempenho em sala de aula e certamente foi o argumento usado por José Barbosa para convencer os vereadores na dispensa de outros cargos.
Em 30 de março de 1836, decidiu abrir mão da função de juiz municipal. E, em 31 de junho de 1841, foi à vez de pedir demissão do emprego de secretário da Câmara Municipal “por impossibilidade de poder exercer conjuntamente com os trabalhos de professor de 1ª Letras e Agência dos Correios que lhe estão a cargo”.
Em uma sociedade marcada pelo analfabetismo, de “inábeis professores, porque homens inteligentes e ilustrados não queriam sujeitar à sorte precária do magistério, como que a instrução corria à revelia, árida e improfícua” (Alencastre), José Alves Barbosa foi destemido ao enfrentar por longas décadas o monstruoso desafio de sobreviver e permanecer exercendo uma atividade sem nenhuma perspectiva de crescimento.
José Alves Barbosa foi um dos pouquíssimos professores do período Imperial reconhecido publicamente pela Câmara Municipal pelos bons serviços prestados a educação campo-maiorense.
A Lei de 15 de outubro de 1827 mandava criar escolas de Primeiras Letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império. Atendendo a essa lei, o Governo Provincial do Piauí por meio das portarias de 15 e 18 de julho de 1829 criou duas Cadeiras de Primeiras Letras pelo método mútuo em Oeiras e, pelo método simples, em Jaicós, Poti, Campo Maior, Valença, Barras, São Gonçalo, Marvão, Piracuruca, Parnaíba, Jerumenha, Parnaguá e Piranhas. No caso de Campo Maior, ocupou a cadeira, os professores José Alves Barbosa e Justino da Silva Pacheco.
Conforme ofício do presidente da Câmara Municipal João da Silva Affonso, de 18 de abril de 1844, Campo Maior possuía duas escolas públicas, a do sexo masculino frequentado por 30 a 40 alunos; e a do sexo feminino frequentado por 16 a 20 alunas. Segundo o vereador João da Silva Affonso, o ensino era de baixa qualidade. A educação primária não avançava.
Após dez anos (1854) dos dados apresentados pelo vereador João da Silva Affonso, o aumento no número de alunos e alunas permanecia tímido. No total eram 51 meninos. A turma feminina praticamente ficou inalterada com 21 meninas. Mesmo assim, Campo Maior possuía quantidade de discentes bastante razoáveis se comparado com outras vilas do Piauí. A região dos carnaubais ficava atrás apenas de Teresina.
As consequências do fraco desempenho educacional em Campo Maior no período Imperial resultam de uma série de problemas: desigualdade econômica, estrutura política voltada para interesses de fazendeiros e vaqueiros, falta de professores qualificados, baixíssima remuneração, relapso dos pais com a educação dos filhos. Alguns não mantinham as crianças na escolar por falta de condições ou ignorância.
Pelo decreto de 5 de junho de 1835, artigo 3º, o juiz de paz era o representante do poder público destinado a avaliar, detectar e tomar providências no sentido de resolver os problemas da educação.
A Câmara Municipal inspecionava o trabalho dos professores, fornecia os materiais básicos (papel, pena, tinta, livro de gramática latina) para o funcionamento das turmas.
No orçamento público de 1875-1876, a Câmara despendeu 35$00 mil-réis para ajudar no ensino de primeiras letras aos alunos pobres de ambos os sexos. Para os anos seguintes (1877-1878) o valor caiu: 30$ 000 mil réis.
FONTE CONSULTADA
ALENCASTRE, José Martins Pereira de. Memória Cronológica, histórica e corográfica da província do Piauí. Teresina-PI: SEDUC, 2005.
CHAVES, Joaquim Raimundo Ferreira. Obra Completa. Teresina-PI: Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, 2013.
COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Cronologia histórica do Estado do Piauí. Teresina-PI: Academia Piauiense de Letras, 2015. Coleção Centenário, 3 ed. V. 1.
_____________________________. Cronologia histórica do Estado do Piauí. Teresina-PI: Academia Piauiense de Letras, 2015. Coleção Centenário, 3ed. V.2.
FERRO, Maria do Amparo Borges. Educação e sociedade no Piauí Republicano. Teresina, 1996.
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as tiranias do tempo. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
SOUSA NETO, Marcelo de. Entre Vaqueiro e fidalgos; sociedade, política e educação no Piauí (1820-1850). Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 2013.
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