A Era Vargas (1930-1945) foi um dos períodos da história em que Campo Maior teve maior número de prefeitos. Em quinze anos de regime foram quatorze gestores municipais entre titulares, nomeados e substitutos. A maioria dos gestores cumpria mandatos “tampão”. Uns ocuparam a função provisoriamente, indicados pelo prefeito titular; outros nomeados, por escolha pessoal do Interventor Federal no Piauí. Foi um momento intempestivo. De muitas mudanças e trocas políticas.
O governo de Francisco Alves Cavalcante, o mais longevo do período, foi à gestão com maior número de prefeitos interinos. Chico Alves, como era conhecido Francisco Alves Cavalcante, indicava ao Interventor Federal as pessoas que deveriam ocupar o cargo provisório de prefeito na sua ausência. Um foi sua irmã: Vivência Alves; os outros, funcionários da sua loja, que também ocupavam cargos na prefeitura. Quais motivos da constante troca de gestores durante a Era Vargas? Qual o impacto político nas mudanças dos chefes do executivo?
No período em que Francisco Alves Cavalcante esteve aliado ao presidente Getúlio Vargas, os prefeitos substitutos passavam pelo seu consentimento antes de serem nomeados pelo Interventor Dr. Leônidas Melo.
Alguns prefeitos não eram políticos profissionais e sim funcionários do governo do Estado. Raimundo Ney Baumann trabalhava como técnico no Departamento das Municipalidades, Ascendino Pinto Aragão era fiscal da receita estadual, Manoel Felício era juiz da comarca de Campo Maior. Eles não tinham parentesco com membros de grupos oligárquicos locais e nem eram filhos da terra. A maioria eram forasteiros.
Com as duas maiores lideranças políticas do município fazendo oposição a Getúlio Vargas no período do Estado Novo, o Interventor do Estado, Dr. Leônidas Melo ficou quase sem opção política, ou melhor, sem confiança na indicação de um nome local para prefeito. Daí a opção do Interventor pelos agentes públicos do Estado, a exemplo de Raimundo Ney Baumann e Ascendido Pinto Aragão para comandar o destino da terra dos carnaubais. Eles eram mais eficientes e combatiam a politicagem no serviço político. Servidores do Estado e ideológicos buscavam a sistemática doutrinação da classe operária campo-maiorense organizada em sindicatos. O Centro Operário Campo-Maiorense foi um dos sindicatos a sofrer dura intervenção política do Estado Novo.
Os prefeitos nomeados na fase do Estado Novo, prestigiados pelo Interventor Dr. Leônidas Melo, ocuparam o executivo municipal sem passar por indicação de liderança local. Eles empenharam-se mais na propagação dos mitos, ritos e ideários do regime Getulista, que na defesa específica de grupos oligárquicos locais. Isso fica nítido quando analisamos a organização dos festejos cívicos para promover o nacionalismo e o patriotismo exaltados pelo governo federal. A ideia era renovar as forças políticas com a criação de novos grupos mais afinados aos princípios de Getúlio Vargas. Contudo, tal fato não procedeu em Campo Maior. Os velhos caciques, Francisco Alves Cavalcante e Sigefredo Pacheco continuavam monopolizando a política. Nos quinze anos de governo Vargas não surgiu uma nova liderança local, nem mesmo na Câmara, reduzida a mero conselho consultivo do prefeito. O Departamento Estadual das Municipalidades cumpria a função legislativa da Câmara Municipal, dando a última palavra nas questões deliberativas.
A intromissão dos Interventores nos assuntos municipais causava mais dissabores que agrados. A cada nova nomeação de prefeito, um desajuste na organização da máquina administrativa, na acomodação de apoiadores em cargos públicos. A continuidade das obras foi o grande legado da política ad hoc de nomeação dos prefeitos. Quase todos os prefeitos concluíam as obras e serviços deixados pelos antecessores. As construções deixadas por Raimundo Ney Bauman foram finalizadas e inauguradas na gestão de Ascendino Pinto Aragão.
Na Era Vargas, a gestão dos negócios públicos foi exercida alternadamente por prefeitos nomeados, conforme o quadro político vigente na época. No final da década de 1940, os gestores passaram a ser eleitos pelo voto direto e secreto, cumprindo mandatos regulares de quatro anos.
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