PREFEITO SIGEFREDO PACHECO por Celson Chaves




Uma virtude, entretanto, eu reivindico que ninguém nesse País tenha maior amor ao Brasil que eu próprio. E, se amo tão profundamente o Brasil, é porque nele está o Piauí, que eu amo mais que o Brasil, e, se amo tão entranhadamente o Piauí, que pobre e abandonado é altivo e heroico, porque nele está Campo Maior, a mais altiva, a mais bela, a mais encantadora e a mais independente região do Mundo. Sigefredo Pacheco.

 Sigefredo Pacheco nasceu a 22 de maio de 1904 e faleceu a 11 de janeiro de 1980 em Campo Maior. Filho de Vicente Pacheco e de Inês da Costa Araújo Pacheco. Casou-se com Alzira Torres Sampaio Pacheco. Iniciou os estudos na escola da professora Briolanja Oliveira. Depois foi para o Colégio Liceu Piauiense, em Teresina; em seguida, no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Graduou-se em Farmácia, em 1927, pela Faculdade de Farmácia – Niterói (RJ); em 1930, diplomou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina – Niterói (RJ). Foi professor de Histologia da Faculdade Fluminense de Medicina; Médico do Pronto-Socorro do Hospital Paula Cândido – Niterói (RJ); Farmacêutico e Oficial de Reserva do Corpo do Exército. Especialista em tuberculose, otorrinolaringologia, proctologia, obstetrícia, ginecologia e histologia. Foi Delegado de Saúde no Piauí (atual cargo de Secretário Estadual de Saúde).

Prefeito Sigefredo Pacheco

Um homem é conhecido por sua história. E nenhum campo-maiorense até hoje alcançou fama e prestígio político como Sigefredo Pacheco. Era homem de talento e visão. Perspicaz, sabia recuar para barganhar depois. Fez isso quando a tríade de lideranças (Raimundo Nonato Andrade, Jaime da Paz e Dácio Bona) uniu-se para emplacar a candidatura de Dácio na década de 1970. Nesse caso, preferiu juntar-se a chapa corrente em vez de apresentar um possível nome para disputa eleitoral. Coube a Sigefredo a indicação do vice-prefeito, que ficou com o irmão Ivon Pacheco. Não era vaidoso. Esperava o momento certo para atuar. Cultivou a paciência como virtude. Teve todas as chances para disputar a indicação do PSD para Governo do Estado, contudo recuou da pretensão em nome da pacificação, união e fortalecimento da sigla partidária.

Sigefredo Pacheco ingressou cedo na política. Antes mesmo de formar-se em Farmácia (1927) e depois em Medicina (1930) já frequentava rodas de conversas e reuniões nos casarões da Bona Primo. Era membro de família política. Seu avô, o advogado João Antônio Pacheco foi líder muito influente na segunda metade do século 19. João Pacheco exerceu diversos cargos públicos na então vila de Campo Maior. Foi promotor, juiz, coletor de impostos, vereador e capitão da antiga milícia imperial (Guarda Nacional). O pai, Vicente José Pacheco (segundo do nome) figura bastante atuante na Câmara Municipal de Campo Maior, no período da Republica Velha. Vicente foi vereador, presidente do poder Legislativo e Intendente Municipal (prefeito). Os irmãos Leopoldo e Ivon também atuaram no legislativo local. Ivon teve ainda breve passagem pelo executivo municipal. Cláudio Pacheco, além de brilhante jurista, foi deputado estadual.

Sigefredo não caiu de paraquedas na vida pública. Foi preparado para continuar o legado da família e ajudar a manter Campo Maior no cenário político estadual.  Ele aprendeu o jogo do poder no próprio lar, na convivência com parentes e amigos. O jovem estudante de medicina já participava ativamente de importantes eventos da cidade, como na fundação do primeiro sindicato do município em 1924: Centro Operário Campo-Maiorense.

Iniciou a carreira política em 1933, sendo eleito prefeito em 1935. Dez anos depois consegue uma vaga na Câmara dos Deputados (1945), pelo partido Social Democrático (PSD). Autor do projeto de lei ordinária 827/1949-21/09/1949, que concedia isenção de direitos e demais taxas aduaneiras inclusive de imposto de consumo para importação de dois motores Caterpillar a óleo diesel, destinados à prefeitura de Campo Maior-PI. Foi um dos coordenadores da campanha vitoriosa de Petrônio Portela para o Governo do Piauí em 1962. No mesmo pleito foi eleito Senador pelo PSD. Articulou e planejou a visita do amigo ex-presidente militar Humberto de Alencar Castelo Branco a Campo Maior, terra dos pais do general. Encerrou o mandato de Senador em 1971.

General Humberto de Alencar Castelo Branco em vista a Campo Maior. 30 de julho de 1960. Foto:http://bitorocara.blogspot.com/

 

Depois de abandonar a política, dedicou-se a escrever um livro autobiográfico intitulado de “Lembranças de um velho curandeiro político”.  A notícia da possível publicação do livro de Sigefredo com suas “revelações sobre a Revolução de Março de 1964” chegou até os órgãos de censura em 1977. O livro não foi publicado. Não se sabe os motivos. Teria sido censurado pelos militares? A obra foi mencionada no Jornal do Brasil.

Ele entrou na vida pública num dos momentos mais conturbados do Brasil, a Revolução de 1930 trouxe mudanças significativas no país, representou o desmonte do velho esquema da política “Café com Leite” que monopolizava o poder no Brasil nas mãos de oligarquias estaduais (principalmente paulista e mineira) desde a proclamação da República em 1889. A chegada do gaúcho Getúlio Vargas a presidência da república alterou profundamente as estruturas sociais e políticas da nação. Inicialmente, Sigefredo Pacheco abraçou a causa getulista, depois se decepcionou e rompeu com o Regime. Com o rompimento político passou a ser perseguido pelo Regime de Vargas, tendo o mandato de prefeito cassado, em 1937, pelo Interventor Federal no Piauí, o Tenente Landri Sales.

Sentiu-se abandonado, traído e perseguido pelo regime que ajudou a defender e estabelecer no Piauí junto com Hugo Napoleão. Em um dos seus pronunciamentos no Senado Federal, relembra o episódio em que contribuiu para instalação do Regime Vargas no Estado:

Vitoriosa a revolução [1930], eu e meu irmão representávamos, no Estado, seus ideais e defendíamos seus princípios. Cláudio, diretor do seu jornal, Deputado estadual, e eu, médico da cidade de Campo Maior, coordenávamos a organização eleitoral de seu Partido. Logo em seguida, entramos em atrito com o Governador de então, Tenente Landri Sales, e enfrentamos a mais séria, difícil e dolorosa das lutas políticas havidas no Piauí. Houve lances heroicos – muitas vezes as balas sibilavam e, na terra generosa, sepulturas eram cavadas para enterrar aqueles que morriam em defesa dos ideais e princípios que esposávamos. Pronunciamento do Senador Sigefredo Pacheco, 01 de setembro de 1965.

Sigefredo era um homem destemido e de posicionamento forte. Não se furtava dos embates. Venceu uma eleição de prefeito dificilíssima. Seu adversário, Dr. Antônio Cicero Correia Lima tinha o apoio do coronel Francisco Alves Cavalcante, figura expoente do Regime Vargas em Campo Maior. Essa campanha memorável foi romanceada pelo escritor Heitor Castelo Branco Filho no livro Paz e Guerra na Terra dos Carnaubais (edição de 1992). Foi o único prefeito eleito do período Era Vargas, todos os demais foram nomeados.

Teve passagem exitosa pelo Congresso Nacional. Respeitado pelos pares, representou como poucos os interesses do Estado do Piauí e da sua amada Campo Maior. Fez parte diversas comissões parlamentares, momento em que teve oportunidade de representar o Brasil em diversas viagens internacionais.

Sigefredo Pacheco fez muito pouco como prefeito. Mas compensou como parlamentar federal. Seu governo sofreu muitos atropelos devido a forte oposição. Em menos de dois anos de gestão teve o mandato cassado. Conseguiu inúmeros investimentos para o município. Atuação de Sigefredo junto ao governo e órgãos federais resultou em ações estruturantes para Campo Maior como a construção do sistema de água e esgoto (SAAE) pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DENOCS) e depois com a Fundação Serviços de Saúde Pública (FSESP). O projeto foi executado em parceria com o então prefeito José Olímpio da Paz. Foi sem dúvida, uma das maiores obra de saneamento da história da cidade, que se urbanizava graças à pujança econômica. Realizou também a construção do primeiro centro de formação de professores da região, a Escola Normal Rural. Idealizou e fundou a Sociedade de Pesquisa e Orientação Cultural de Campo Maior, instituição responsável pela construção do Teatro Sigefredo Pacheco e pela distribuição de inúmeras bolsas de ensino para estudantes. O auxílio educacional bancava as despesas dos alunos que estudavam em outros Estados. Foram inúmeras as realizações em Campo Maior com o apoio e a liderança de Sigefredo Pacheco: construção do Hospital São Vicente de Paulo, Colégio Leopoldo Pacheco, Frigorífico do Estado do Piauí (FRIPISA). Conseguiu verbas federais para o Patronato Nossa Senhora de Lourdes e Ginásio Santo Antônio.

Sigefredo foi um tribuno. A inteligência e o domínio da língua culta garantia-lhe boa desenvoltura em assuntos discorridos no plenário da Câmara Federal ou Senado. O “velho curandeiro”, como gostava que o chamasse, mesmo residindo no Rio de Janeiro, então capital federal, mantinha suas raízes sertanejas ficadas em Campo Maior. Fazia questão de afirmar suas referências nos discursos:

“Fui homem de campo, vaqueiro, trabalhador da terra, voltei às minhas caçadas, aos meus divertimentos prediletos.”

“[…] sinto aqui saudades da minha terra. Angustiosa saudade do meu Piaui. Saudade que muitas vezes fez lágrimas rolarem-me no rosto, confesso, sem nenhum acanhamento, quando recebia telegramas encantadores que diziam ─ as chuvas chegaram, o rio encheu, o verde cobre os campos, as árvores estão cobertas de folhas, os currais cheios, o leite abundante, a coalhada abundante, o queijo abundante. As noites negras incendiadas pelos relâmpagos, os trovões rebolando, ecoando no coração do povo piauiense, sinto saudade desta coisa maravilhosa que desde a minha infância, desde os meus primeiros dias alegra o meu coração – a chuva – o inverno. E, nesta hora, todo piauiense agradece a Deus a beleza da chuva que chega, do inverno que anuncia ao pobre fartura nas suas roças.”

Além de trazer obras, realizar serviços, Sigefredo acompanha de perto o desempenho das ações desenvolvidas, ao tempo que reforçava perante as autoridades federais mais recursos para as instituições e projetos em execução.

A Maternidade, apenas com dois anos de funcionamento, atendeu, no ano passado, 1.600 parturientes e gestantes, registrando apenas 4 óbitos de parturientes e 3 natimortos. Já começou novas obras de ampliação, porque, sendo um nosocômio regional, suas instalações já se revelam insuficientes.

A Sociedade de Pesquisa e Orientação Cultural, além de uma ótima biblioteca, está construindo um auditório para o desenvolvimento da arte e da cultura locais, e cuida, sobretudo, do amparo aos estudantes pobres. São cerca de mil os já beneficiados. Concede bolsas de estudo, auxílios para alimentação, vestuário e passagens para os que estudam em outros Estados. Só em Escolas Agro técnicas têm 21 bolsistas matriculados, já tendo formado mais de 30. Desde agosto suspendeu qualquer ajuda a estes rapazes que estão passando grandes dificuldades, por falta absoluta de recursos. Quatro estudantes que vieram para o Colégio Agrícola de Planaltina e que a diretoria recusou admitir inscrever para o exame de admissão, apesar de terem chegado no último dia do prazo, estão aqui passando fome, porque teimam em lutar por conquistar um lugar digno na comunidade brasileira.

Também em grandes dificuldades estão o Centro Operário e a Escola Primária Gratuita do Grêmio Recreativo. Citei o exemplo de minha cidade porque é o espelho refletindo o que está acontecendo em todo o Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul, Excelentíssimo Senhor Presidente Médici… Pronunciamento do Senador Sigefredo Pacheco, 11 de setembro de 1969, fazendo apelo ao presidente da República no sentido de liberar verbas destinadas a instituições particulares.

Em seu discurso de despedida do Senado Federal, assim expressou a mais antológica de todas as frases, emblemática para todos que vivem acima deste solo abrasador e abaixo do céu límpido e anil. São frases que eternizam a luta de um homem que entendeu e praticou o verdadeiro significado do termo política: servir.

Elegante, sabia cortejar a controvérsia com maestria. Mesmo aqueles que travavam debates com ele reconheciam-no como tribuno de falar mansa e sensata.

 

FONTE CONSULTADA

CHAVES, Celson. Câmara Municipal de Campo Maior: 256 anos de história. Teresina-PI, Gráfica SP LTDA, 2018.

LIMA, Reginaldo Gonçalves. Geração Campo Maior: anotações para uma enciclopédia. Campo Maior-PI, edição do autor, 1995.

NETO, José Cunha. Amigos de Campo Maior. NETO, José Cunha Neto. Nossa Terra, Nossa Gente. Campo Maior-PI, edição do autor, 1994.

JORNAIS

O Momento. Teresina 28 de outubro de 1937. Pelos Municípios: sensacional escândalo de um prefeito municipal que se vem descontrolando há tempos.

A Manhã. Rio de janeiro, 22 de janeiro de 1950. A palmatória trabalhou horas seguidas….

Jornal do Piauí. Teresina, 11 de junho de 1953. Palpitantes declarações do dep. Sigefredo Pacheco.

A Cidade. Teresina, 21 de janeiro de 1953. A candidatura Sigefredo Pacheco.

O Dia. Teresina, 14 de junho de 1953. Política piauiense.

O Dia.  Teresina, 13 de junho de 1954. A atitude do deputado Sigefredo Pacheco.

Jornal do Brasil. Rio de Janeiro-RJ, 22 de junho de 1958. Confusa a política no Piauí. 

A Luta. Campo Maior, 18 de maio de 1959. Aniversaria o Senador Sigefredo Pacheco. 

A Luta. Campo Maior, 26 de dezembro de 1976. Sigefredo Pacheco continua no proposito de desmoralizar Jaime.

 

 

 

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