Dácio Bona foi eleito prefeito de Campo Maior sem concorrentes. Sua eleição foi selada com o apoio dos Pacheco, quando Sigefredo indica o irmão Ivon para vice de Dácio no pleito de 1973. Ivon Pacheco já tinha sido vice de Waldeck Bona (1948-1951), irmão de Dácio.
A união de quatro lideranças (prof. Raimundinho Andrade, Jaime da Paz, Sigefredo Pacheco e Dácio) com forte atuação na política municipal afastou qualquer candidato de uma pretensa disputa eleitoral contra Dácio. Era uma campanha de cartas marcadas. José Olímpio da Paz era único que poderia entrar nessa disputa, porém ele buscava as duras penas consolidar-se como liderança a nível estadual, chegando a ocupar em alguns momentos o cargo de deputado na condição de suplente. José Olímpio disputou o cargo de deputado estadual três vezes (1966, 1970 e 1974) e nas três oportunidades ficou na suplência.
Antes de ser eleito prefeito, Dácio ocupou a presidência da Câmara Municipal na condição de vice-prefeito de Oscar Castelo Branco Filho (1955-1959). A constituição de 1946 estabeleceu no art. 61 que “o Vice-Presidente da República exercerá as funções de presidente do Senado Federal”. Com base neste dispositivo constitucional foi aprovada a lei municipal nº36/1954 que “confere ao vice-prefeito as funções de presidente da Câmara”. Os vices ocuparam a presidência da Câmara Municipal de 1955 até 1977.
Dácio nasceu em Campo Maior, a 01 de novembro de 1920; e faleceu em Teresina, a 12 de maio de 2015. Filho de Ovídio Bona e Ana Monteiro Bona. Casou-se civilmente na chácara Belo Horizonte, de propriedade dos seus pais, com Jacy de Almeida Morais, em 06 de outubro de 1951. O casal teve duas filhas.
Ingressou no ensino primário no Colégio Valdivino Tito; o secundário em Teresina, no Liceu Piauiense; formou-se em Odontologia na Universidade Federal do Pará, especializando em Radiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estagiou um ano e seis meses na antiga policlínica do Rio de Janeiro. Foi professor de Ciências e Biologia por mais de vinte anos no Ginásio Santo Antônio e no Colégio Estadual Professor Raimundinho Andrade. Aposentou-se como cirurgião-dentista do 2º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC). Membro fundador da Escola Normal Santa Teresa de Jesus e sócio do Centro Operário Campo-Maiorense.
Das realizações do governo Dácio vale ressaltar: conclusão do edifício do Terminal Rodoviário Zezé Paz (1973), iniciado na gestão de Jaime da Paz; a construção do Centro Administrativo da Prefeitura Municipal de Campo Maior (1976), localizado na Praça Luiz Miranda; Instalação da torre receptora do sinal de TV Canal 4 de Teresina (Rede Globo); ampliou o número de salas de aulas na sede e no interior; instalou postos de saúde nos povoados Cocal de Telha, São Joaquim e Bananeiras; arborizou as ruas Benjamim Constante e Demerval Lobão; construiu açude nas localidades Lagoinhas, Jenipapeiro e Araçás; restaurou os açudes do São Francisco e Estrela, construção das estradas carroçais ligando a sede a diversos povoados; construção da estrada Campo Maior ao antigo povoado, hoje cidade de Jatobá do Piauí; iluminação pública das margens do Açude Grande e da ponte sobre o Rio Surubim; instalou gerador elétrico no povoado Conceição e Boqueirão; asfaltou algumas ruas do centro. Foi reconhecido como o gestou responsável por organizar as finanças do município, deixando considerado saldo bancário na conta da prefeitura no valor de Cr$ 579, 325, 98.
Assim como Jaime da Paz, Dácio colaborou na construção do Momento do Jenipapo. Ele também continuou no apoio ao Jornal A Luta, grande suporte midiático das gestões de Jaime da Paz e Raimundo Andrade.
Fez uso da palavra o vereador José Cunha Neto, achando o mesmo que deveria o prefeito municipal remunerar melhor o jornal A Luta para que o mesmo tivesse melhores condições para o funcionamento, a ideia do vereador foi por todos apoiados. Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 16 de agosto de 1973.
Em 1975, no evento de comemorações ao 13 de Março, Dácio Bona recepciona na prefeitura, o ilustre escritor e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda juntamente com a presença do governador Alberto Tavares Silva, responsável pela construção do Monumento do Jenipapo. Um dia memorável para cidade que ficou registrado nos anais do Poder Legislativo. Trata-se da primeira edição do Dicionário da Língua Portuguesa.
O governado Alberto Silva recebeu das mãos de Aurélio Buarque de Holanda, figura expoente das letras e da cultura brasileira com dedicatória autografada, a mais recente obra da Língua Portuguesa, sem dúvida, peça de real valor e de imprescindível manuseio para aqueles que rotineiramente manejam com o vernáculo. Usaram da palavra o acadêmico Odílio Costa Filho oferecendo a obra, em nome do autor e agradecendo ao governador Alberto Silva. Foi um momento histórico e de alta significação de apreço, nosso município elevou-se mais ainda pela presença de altas figuras representativas, todas, do mundo político, social, administrativo e cultural da terra, do Piauí e do Brasil. Foi uma oportunidade rara em que nada menos do que dois integrantes da Academia Brasileira de Letras estavam presentes: Odílio Costa Filho, acompanhado de sua excelentíssima esposa, dona Nazaré; e Aurélio Buarque de Holanda, autor da obra presenteada. Fato inédito que pela particularidade de sua importância pedimos seja consignado em ata para que nos anais desta casa sirva de posterioridade, de inusitado orgulho de todos os campo-maiorenses. Ata da Sessão Ordinária de Câmara Municipal, de 17 de março de 1975.
Numa visão dinâmica e estratégica, Dácio Bona decidiu reinvestir o lucro obtido com aquisição de ações do “Capital Social das Centrais Elétricas do Piauí-CEPISA” pela prefeitura de Campo Maior.
Durante a gestão de Dácio Bona, a Câmara Municipal teve atividade legislativa tranquila do ponto de vista político, focada na solução dos problemas sociais e urbanos. Contudo, alguns momentos merecem destaque: o fato cômico de vereador embriagado presidindo os trabalhos da Câmara; a morte do parlamentar, Severo Augusto da Paz, renuncia do edil Carlos Antônio de Sousa e o episódio da prisão do vereador Antônio Raimundo Ibiapina, gerando desconforto político na Câmara. Em 1975, os vereadores voltaram a ser remunerados.
O único incidente envolvendo Dácio e o Legislativo ocorreu entre o prefeito e Raimundo Ribeiro Santos por conta da entrega do título de cidadania campo-maiorense ao coronel Luiz Gonzaga de Oliveira. Foi uma infeliz troca de farpas e desentendimentos. Joaquim Mamede Lima era o líder da oposição. Sem muito espaço na mídia local, diga-se no Jornal A Luta para fazer denúncias contra a gestão de Dácio Bona, Mamede Lima recorria à imprensa da capital. Ele havia acusado no plenário da Câmara suposta politicagem na convocação dos professores para ingressar no antigo curso supletivo.
Na década de 1970, perambulavam pelas ruas de Campo Maior um número considerado de mendigos, desocupados e loucos. Isso acaba refletindo em discussões na Câmara e na proposição de projetos e ideias para solucionar o problema da vadiagem, marginalidade e de pessoas com problemas mentais, que acabavam vagando pelas ruas e praças da cidade, alguns tocavam o terror, outros se tornaram figuras populares ou caricaturescas. Alguns locais viraram pontos de atração para essas pessoas. Caso do Mercado Público e Terminal Rodoviário.
Falou o vereador Raimundo Ribeiro dos Santos sugerindo que fosso feito um ofício ao delegado regional a respeito do sr. Bernardo [doido], que o mesmo se encontra em estado de loucura. Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 21 de julho de 1975.
A saúde pública de Campo Maior era precária. Faltavam recursos, médicos, remédios e postos de saúde para atender a grande demanda da população. Na zona rural a situação era pior. O vereador Guido Campelo Leite fez de diversos pedidos ao prefeito Dácio para resolver a falta de médico no posto de saúde do povoado Conceição do Brasão, atual cidade de Sigefredo Pacheco. Havia pedidos para aumentar e melhorar as visitas médicas no interior.
O vereador José Cunha Neto questionava porque deixar de “fora do SAMDU pessoas doentes sem condições”. Nesse cenário, não havia condição para lidar com pacientes com problemas mentais. Nem havia política pública para atender essa clientela. Os loucos eram tratados como caso de polícia. Muitos eram enviados para cadeia, outros para o Hospital Psiquiátrico em Teresina.
O vereador Raimundo Ribeiro dos Santos solicitando que seja feito um ofício ao sr. prefeito pedindo que seja tomadas providências no caso de loucos que andam nus pelo Mercado e outros lugares. Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 15 de outubro de 1976.
Pedindo que seja tomada providência dos loucos que andam despidos pelas ruas e Mercado Público e pede uma ajuda ao sr. prefeito para despesa de gasolina para transporte dos mesmo para ser levado aos Hospitais quando necessários. Ata da Sessão Ordinária da Câmara de Campo Maior, 18 de outubro de 1976.
O jornal A Luta divulgou reportagem sobre os loucos que vagavam pelas ruas e praça de Campo Maior, ao noticiar o caso de uma mulher nua (Ester) que atacava as pessoas. A gazeta solicitava medidas urgentes das autoridades médicas e policiais para o recolhimento dos doentes mentais. O escritor memorialista Francisco da Silva Cardoso acabou registrando parte dessas figuras marginalizadas em seu livro Memórias da Adolescência: venturas e aventuras em Campo Maior (1994).
Dácio refundou a Biblioteca Municipal, instalando-a no novo Centro Administrativo da Prefeitura de Campo Maior. Transferiu a Torre do Relógio que ficava situado na Praça Luiz Miranda para a Avenida Santo Antônio, ao lado do Terminal Rodoviário. Nem todos os vereadores concordaram com a retirada do Relógio. Ele funcionou pouco tempo. Até hoje, muito pessoa esperam a restauração deste monumento, um dos símbolos da modernidade da cidade no século 20.
Na educação, Dácio manteve regularidade, sem grandes problemas. Maria da Glória Silva do Vale, secretaria de educação, era bastante profissional e competente. Ela comandava o departamento desde a gestão do professor Raimundinho Andrade.
Austero, probo e um bom administrador, Dácio compôs junto com Raimundo Nonato Andrade e Jaime da Paz a tríade de prefeitos que tornaram os anos de 1970 uma década de desenvolvimento em Campo Maior. Depois de cumprir o mandato de prefeito, Dácio ainda tentou manter-se na vida pública, ao disputar uma vaga na Assembleia Legislativa do Piauí em 1978, mas perdeu.
FONTE CONSULTADA
LIVROS
CHAVES, Celson. História Política de Campo Maior. Campo Maior-PI, edição do autor: 2013.
CHAVES, Celson. Câmara Municipal de Campo Maior: 256 anos de história. Teresina: Gráfica SP LTDA, 2018.
LIMA, Reginaldo Gonçalves. Geração Campo Maior: anotações para uma enciclopédia. Campo Maior-PI, edição do autor, 1995.
JORNAIS
A Luta, Campo Maior, 20 de março de 1977. Dácio e sua prestação contas.
A Luta, Campo Maior, 1975. Dácio Homenageado.
A Luta, Campo Maior, 16 de março de 1975. Edital de concorrência pública.
Gazeta Campo-Maiorense. Campo Maior, janeiro de 1997. Dr. Dácio Bona, uma reserva moral.
Jornal O Dia, Teresina, 04 de janeiro de 1974. Prefeito regulamenta a saída de carne.
DOCUMENTOS
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 20 de maio de 1973.
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 17 de março de 1975.
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 15 de maio de 1975.
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 15 de julho de 1975.
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 23 de janeiro de 1976.
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Campo Maior, 23 de outubro de 1976
Leave a Reply